Relato de Daniel Junior, sobre o MIUT.

11-06-2012 20:51

 

    Porto Moniz, 08 de junho de 2012. 9h30min da noite. Concentração dos atletas que vão fazer os 102,5km do Madeira Island Ultra Trail. 2 autocarros partem em direção a Machico com todos nós atletas. Chegamos a Machico e encontramos uma grande festa! Mas a festa não era para os atletas e sim uma festa medieval que acontece ali na região. Vários olhares curiosos das pessoas que estavam na festa para os atletas. Perguntaram-me do que eu estava fantasiado. Eu disse: estou fantasiado de corredor e vou para a uma grande festa.

    Meia noite. Altitude 0m. Começamos a correr. No início já pegamos subida e trilhos até chegarmos à Levada do Caniçal onde o percurso era mais plano. Alegria de pobre dura pouco e lá vamos subir os trilhos da Boca do Risco que com o seu nome já diz tudo. Ainda era o início da corrida, noite, então não víamos assim tanto risco. Ao km 11 e a 580m de altitude chegamos a Funduras onde se encontrava o primeiro posto de controle. Dalí até Portela foi um percurso plano por estradão fácil de rodar. Mas quando chegamos a Portela tínhamos uma grande subida até Poiso 1390m de altitude ao km 26. Lá já havia vários desistentes. Eu estava bem. Depois descíamos até Ribeiro Frio e a partir dali começava uma grande subida até o Pico do Areeiro que ficava a mais de 1800m de altitude. A subida não foi tão difícil, mas o vento era muito forte e estava frio. Ao chegar ao Pico do Areeiro tínhamos que continuar até ao Pico Ruivo. Foi um sobe e desce nas escadas de pedra que massacrou. Ali encontrei com os atletas que partiram para a prova dos 55km. Do Pico Ruivo tínhamos que continuar até o Chão dos Loiros e aí a prova realmente começou pra mim. Já fazia mais de 9h de prova e eu estava com fome. Ia acompanhado com alguns madeirenses que contavam as histórias dos locais onde passávamos. Descemos até o Chão dos Loiros e lá desistiu muita gente. Eu estava bem e matei minha fome com uma canja que era mais água do que canja. Troquei de roupa. Pronto. Preparado pra mais 14km até os Estanquinhos.

    O sol estava muito forte e a subida muito inclinada. Não chegava nunca lá acima. Eu que estava todo alegre até ali, mas no momento já não estava mais. Cheguei aos Estanquinhos acabado. Comi e logo parti em direção ao Chão da Ribeira. Trilho muito técnico e descida muito inclinada. Sol muito forte. Comecei a ter alucinações. Vi um painel de um Ford na minha frente, um autocarro, ouvia vozes estranhas, pensamento sem sentido. Eu estava muito mal. Cheguei ao Chão da Ribeira as 21h e fui a uma torneira pra lavar a cara e ver se acordava. Falaram-me que eu estava em último. E tinha um atleta a 12 minutos na minha frente e que eu teria que chegar ao próximo posto de controle até as 23h. Era uma subida enorme até o Fanal, mas eu não podia ficar em último e nem ficar desclassificado. Subi como estivesse no início, corria onde conseguia. Alcancei o último atleta e fui. Cheguei ao Fanal faltando 10 minutos pra fechar o controlo. Era o km 87 e faltavam 15km. Dali foi uma levada até a Ribeira da Janela e de lá só 6km de descida para o final. Estava todo massacrado, mas feliz que ia conseguir terminar. Ia sorrindo e quando encontrava alguém da organização falava sempre algo engraçado para descontrair. A corrida toda foi assim. Muita diversão com os companheiros de corrida e com os da organização. Cheguei com 25h52min. Morto. Feliz. Realizado. Conheci a Ilha de uma maneira impressionante. Vi sítios magníficos, vi as nuvens debaixo de mim, vi o sol nascer e por-se, vi ilusões, vi o sofrimento, vi a felicidade! E não fiquei em último!!! 

 

Daniel Junior

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