Lesões musculares

                 CONCEITO

                Todo o movimento animal é o trabalho do músculo. Os músculos trabalham através da contracção – isto quer dizer, os musculos puxam sempre, nunca empurram. Mesmo quando empurramos uma porta, cada célula muscular envolvida nesta tarefa faz o seu trabalho puxando! O corpo está construído para converter este traccionar em empurrar.

                Existem aproximadamente 650 músculos esqueléticos no corpo (existem mais ou menos três vezes mais músculos que ossos), contendo aproximadamente 250.000.000 de fibras musculares estriadas. As fibras dos membros variam em tamanho entre 10 e 100 micras sendo maiores nos atletas masculinos.

                Cada músculo obedece ao mesmo príncipio do “tudo ou nada” da fibra nervoso que o controla - ou seja, ele contrai-se ou não se contrai. O músculo trabalha convertendo energia química em energia mecânica. Menos de metade da energia potencial disponível é convertida, e a remanescente é perdida sob a forma de calor. É por isso que a nossa temperatura corporal aumenta quando realizamos um trabalho extenuante.

                A titulo de curiosidade, em determinadas situações, o calor produzido daria para aquecer aproximadamente 250ml de água.

O músculo é parecido com um motor de um automóvel, pois utiliza tanto forças químicas como eléctricas para gerar energia. A contracção (disparo) de uma fibra muscular começa onde o seu nervo-motor associado se junta à sua membrana externa, a junção neuromuscular. O nervo motor e as 50-400 fibras musculares que ele supre são denominadas, em conjunto, unidade motora. A área onde o nervo-moto faz interface com célula muscular é denominada placa motora terminal. O bulbo terminal do nervo neste ponto contém pequenos sacos (vesículas) que contêm uma substância denominada acetilcolina (ACTH), um “medidor químico” que é libertado na chegada do impulso nervoso para induzir contracção. No ponto em que o nervo se com o músculo, a membrana, incluíndo a sua baínha (o plasmalema), dobra-se em pregas (pregas sinápticas) que contêm locais receptores de acetilcolina. Isto é denominado placa terminal. O nervo conduz um sinal, denominado potêncial de acção, cuja transmissão carrega duas sequências de actividade eléctrica envolvendo, como uma sanduiche, um evento químico iterveniente.

 

                PATOLOGIA MUSCULAR

                É na prática desportiva que é mais frequente a patologia traumática do músculo. A sua localização é multipla, se bem que 90% das lesões musculares localizam-se no membro inferior de forma fundamental no recto anterior do músculo, nos isquiotibiais e no gémeo interno.

               

            CLASSIFICAÇÃO

                Utilizam-se diferentes termos que traduzem distintos aspectos anatomo- patológicos e que supõem processos evolutivos variáveis.

Estiramento (ALONGAMENTO)

Trata-se de um alongamento das fibras musculares sem rotura, e por isso, sem hematoma nem equimose. O periodo de recuperação é curto (varia entre 5 a 10 dias).

Contractura

Como a alongamento, traduz uma desordem histo-química mas pode apresentar sintomatologia de uma pequena rotura fibrilar. A sua duração é subreponível á do alongamento.

Rotura Fibrilar

Supõe a rotura de várias fibras ou fascículos musculares com hemorragia local mais ou menos importante. A sua recuperação é de três semanas até dois meses, conforme a o tamanho da rotura ou do músculo.

Rotura Muscular

Supõe uma lesão parcial ou total de um músculo. O seu tratamento, em geral, é cirugico, e a sua evolução é grande.

Desinserção Muscular

É rara mas existe, de facto produz-se na inserção entre o músculo e o tendão ou o tendão e o osso (gémeo interno, isquiotibiais, etc.)

Contusão

Produz-se por um choque directo sobre a massa muscular que é a causa do atrito muscular e o hematoma local com tendência á lenta recuperação e a má qualidade de cicatrização.

D.O.M.S.

Dor numa área ou grupo muscular que aparece depois de um esforço desportivo e que vai desaparecer expontâneamente num ou dois dias. Não existe lesão anatómica.

Hérnia Muscular

Corresponde a uma rotura da aponeurose que rodeia o corpo muscular.

 

    ETIOLOGIA DA LESÃO MUSCULAR

Impulsão, aceleração ou desaceleração brutal durante uma corrida, salto, pontapé violento ou movimento descoordenado entre agonistas e antagonistas.

Existe uma série de factores favorecedores da lesão muscular que é necessário conhecer para uma prevenção eficaz:

  1. A falta ou erros de treino;
  2. A falta ou erros de aquecimento;
  3. Material desportivo inadequado ou má protecção ao meio ambiental (clima);
  4. Erros higiénico-dietéticos;
  5. Factores individuais: sexo, idade, fragilidade constitucional, etc.

CLÍNICA

Variável segundo a classificação que desde a impotência absoluta na rotura fibrilarmuscular por dor viva e da síncope, até á aparição de dor difusa que não descapacita de forma absoluta a prática de desporto mas que diminui o rendimento e aumenta o risco de uma lesão de maior gravidade.

DIAGNÓSTICO

  1. O Diagnóstico estabelece-se pela valorização do mecanismo de produção, pela dor à palpação, à contracção resistida ou à distracção do músculo lesionado.
  2. Exames complementares:
  1. Termografia: reflete uma reacção vascular com aumento local da temperatura na zona da lesão.
  2. Ecografia: é a exploração idónea para o diagnóstico de uma lesão muscular.
  3. Ressonância Magnética Nuclear: Deveria ser excepcional a sua utilização para o diagnóstico.

TRATAMENTO

§)           Primeira fase (8 primeiros dias): orientada á reabsorção do hematoma e zona necrosadas.

§)           Segunda fase (8º ao 10º dia): encaminhada a orientação das fibras regeneradas através de estiramentos mecânicos prudentes.

§)           Terceira fase (do 12º ao 15º dia): dedicada ao fortalecimento da cicatriz e a reíncorporação progressiva á prática desportiva.

                CONDUTA PRÁTICA

                Toda a lesão muscular implica uma conduta terapeutica sistemática:

  • Compressão imediata e gelo urgentemente;
  • Repouso do segmento lesionado;
  • Analgésicos e relaxantes musculares;
  • Anti-inflamatórios só a partir do 5º ao 7º dia;
  • Fisioterapia suave, massagem e drenagem distante da lesão;
  • Stretching (alongamento) localizado precoce muito progressivo;
  • Metodologia rigorosa no recomeço das actividades apartir do 20º dia com o músculo não doloroso ao alongamento passivo.

                COMPLICAÇÕES E SEQUELAS

                As principais são:

  • Hematoma compressivo (sindroma compartimental) em fase aguda. Requer drenagem imediata;
  • Reíncidência da lesão;
  • Ossificação, miosite ossificante;
  • Hematoma cístico;
  • Hematoma infectado;
  • Flebite residual;
  • Cicatrizes fibrosas dolorosas;
  • Dor tipo neuro-distónico.

LOCALIZAÇÃO DAS LESÕES MUSCULARES MAIS FREQUENTES

            Pela sua frequência e gravidade há a destacar:

  • Reto anterior do músculo;
  • Isquiotibiais (fundamentalmente biceps femoral);
  • Gemeos (mais frequente o gemeo interno);
  • Adutores.

Rui Campos e Catarina Beça